O Dia da Saúde Ocular, celebrado em 10 de julho, é um lembrete da importância de cuidar dos olhos de forma integral, incluindo fatores menos lembrados como o envelhecimento celular e a hidratação ocular. Neste contexto, o colágeno — conhecido por sua atuação na pele, articulações e músculos — ganha destaque também como nutriente de interesse para a saúde ocular, especialmente em condições como fotoenvelhecimento e doença do olho seco.
O colágeno e a estrutura ocular: muito além da estética
A córnea, a parte transparente do olho responsável por grande parte do poder refrativo da visão, é composta em cerca de 90% por colágeno tipo I, organizado em lamelas que garantem sua transparência e resistência. A integridade dessa matriz colagenosa é essencial para a função visual e para a proteção contra agressões externas, como os raios UV.
Com o avanço da idade e a exposição crônica ao sol, principalmente sem segurança (especialmente à radiação UVA), ocorre o chamado fotoenvelhecimento ocular, caracterizado por degradação do colágeno, estresse oxidativo, inflamação e perda de homeostase da superfície ocular. Esses fatores contribuem para alterações na córnea, aumento da sensibilidade à luz, e favorecem o surgimento da doença do olho seco.
Colágeno da córnea como alvo terapêutico na doença do olho seco
Um estudo publicado por Baratta et al. (2022) trouxe evidências promissoras sobre o colágeno da córnea como um alvo terapêutico na doença do olho seco. Os pesquisadores observaram que alterações na rede colagenosa da córnea, incluindo degradação e desorganização, estão diretamente associadas à progressão do olho seco.
Segundo o artigo citado, estratégias terapêuticas que protejam, estimulem ou reponham o colágeno da córnea podem representar uma abordagem inovadora para o tratamento dessa condição clínica. Isso inclui tanto formulações tópicas com peptídeos bioativos quanto a suplementação oral com colágeno hidrolisado — especialmente do tipo I, que pode auxiliar na integridade das estruturas oculares por mecanismos sistêmicos, como a modulação da inflamação e o estímulo à síntese endógena de colágeno.
Suplementação de peptídeos colágeno: será que pode ser aliada na saúde ocular?
Embora a maior parte das evidências clínicas sobre colágeno esteja concentrada na saúde articular e dermatológica, existem algumas possibilidades terapêuticas promissoras também para a saúde ocular. Ainda que os ensaios clínicos com suplementação oral de colágeno voltada especificamente para o tratamento do olho seco sejam limitados, pesquisas iniciais sugerem um papel potencial desse nutriente na modulação de processos envolvidos na integridade da superfície ocular.
Isso se deve, em parte, ao potencial imunomodulador e reparador do colágeno, que atua favorecendo a homeostase de mucosas e tecidos conjuntivos, como é o caso da córnea. Modelos experimentais indicam que o colágeno pode reduzir marcadores inflamatórios, estimular a síntese da matriz extracelular e auxiliar na manutenção da barreira epitelial — efeitos desejáveis no contexto da doença do olho seco, caracterizada por inflamação crônica e desorganização da matriz da córnea.
Entre as formas de suplementação mais estudadas, destacam-se os peptídeos hidrolisados de colágeno tipo I, amplamente utilizados em protocolos clínicos para pele, articulações e tendões, e o colágeno tipo II não desnaturado que possui evidências em condições autoimunes como artrite reumatoide e síndrome de Sjögren — essa última com manifestações oculares importantes, como o olho seco severo. Esses compostos atuam por mecanismos como a modulação da resposta imune, estimulação da produção endógena de colágeno e a melhora da integridade da matriz extracelular.
Portanto, apesar da necessidade de estudos clínicos direcionados ao uso do colágeno oral em doenças oculares, uma vez que muitos são realizados com uso tópico por meio de colírios, o racional biológico é consistente, e os achados preliminares reforçam a relevância de explorar o colágeno como estratégia adjuvante na saúde ocular, especialmente em condições associadas ao envelhecimento e à inflamação da superfície dos olhos.
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Fontes:
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Iwai K, Hasegawa T, Taguchi Y, Morimatsu F, Sato K, Nakamura Y, et al. Identification of food-derived collagen peptides in human blood after oral ingestion of gelatin hydrolysates. J Agric Food Chem. 2005;53(16):6531–6. doi:10.1021/jf050206p
Baratta RO, Schlumpf E, Buono BJD, DeLorey S, Calkins DJ. Corneal collagen as a potential therapeutic target in dry eye disease. Surv Ophthalmol. 2022 Jan-Feb;67(1):60-67. doi: 10.1016/j.survophthal.2021.04.006. Epub 2021 Apr 18. PMID: 33882269.
Baratta RO, Del Buono BJ, Schlumpf E, Ceresa BP, Calkins DJ. Collagen Mimetic Peptides Promote Corneal Epithelial Cell Regeneration. Front Pharmacol. 2021 Aug 16;12:705623. doi: 10.3389/fphar.2021.705623. PMID: 34483909; PMCID: PMC8415399.
Rana D, Desai N, Salave S, Karunakaran B, Giri J, Benival D, Gorantla S, Kommineni N. Collagen-Based Hydrogels for the Eye: A Comprehensive Review. Gels. 2023 Aug 9;9(8):643. doi: 10.3390/gels9080643. PMID: 37623098; PMCID: PMC10454301.
